domingo, 27 de setembro de 2009

Contemplando

Há pessoas que passam pela vida e não levantam os olhos para as pequenas maravilhas que a natureza, por si mesma, ou a mão do homem nos oferecem. Contemplá-las é, para alguns que passam, perda de tempo, coisa banal. Para outros, estão invisíveis, não as enxergam, ensimesmados em seus problemas, suas moedas, seu poder.

Entretanto há aqueles, entre os quais me incluo, que reverenciam ao Ser Supremo pela alegria de um entardecer dourado, pelas obras do homem que permanecem indiferentes ao tempo, por todos aqueles momentos vividos em que pudemos ver, admirar...

Maior tesouro é esse, que ninguém ou nada jamais roubará de nós. A alegria do contemplar.


Compartilho esses tesouros, com aqueles que também contemplam, que também admiram, que também agradecem...



Vaticano, estátua de São Pedro.




Florença, Loggia della Signoria, obra de Cellini: Perseu.




Pequena obra prima da natureza. Não há como imitar!

sábado, 19 de setembro de 2009

CARMO

Trezentos anos de recolhimento e preces contemplam a praça, impassíveis ao passar do tempo e das gerações.
Do alto da torre, os sinos centenários, emudecidos, parecem dormir. Só despertarão ao sol do meio dia, quando seu som festivo espantará os pombos que se abrigam nos beirais.

Janelas e portas fechadas, de um verde forte, destacam-se na parede branca irregular, protegendo a riqueza de seu interior: imagens, pinturas, entalhes, reunidos em uma atmosfera de sombra, silêncio e paz.

O contorno domina a praça, de tradição e história perdidas e aviltadas; imponente, vê passar pessoas de todas as idades, raças, destinos, desejos...

Igreja e praça se integram, e por sobre as pedras irregulares passam sons e sonhos, dores e amores, em busca do alento ou da salvação. Reúnem-se em um único espaço, que perdurará repleto de história e de histórias, misto de tradição e modernidade, passado e presente fundindo-se em um tempo que passa, fugaz.

À luz do sol a igreja brilha e atesta seu poder e permanência: passarão os tempos e ela estará lá, repicando sinos e recolhendo orações.

domingo, 6 de setembro de 2009

Tudo que se esvai


Luz do entardecer.
Sol no horizonte.
Formas das nuvens
... negras da tempestade.
Areia no rodamoinho.
Caminho da gota na janela.
Sereno sobre a folha.
Vapor ao sol da manhã.
Chuva ao vento forte.
Imagem vista da janela
... do trem
Areia na ampulheta.
Desenho na areia da praia.
O verde no solvente.
Também o amarelo, o vermelho, o azul, o branco.
O sorriso na boca.
A lágrima nos olhos.
O abraço.
O beijo.
Os rostos na janela do ônibus.
A fumaça da fábrica.
O café, no leite - mistura, fusão.
A manteiga no pão quente.
O açúcar na panela ardente - transformação.
O gesto.
A palavra.
O olhar puro do menino.
O suspiro do amante.
O pulsar do coração agonizante.
O creme no corpo.
A música trazida pelo vento.
A última badalada do velho sino da igreja.
O cavo som da pedra no fundo do poço.
O riso da criança.
O soluço do peito.
O doce aroma da dama da noite.
O perfume da moça que passa.
O sabor de hortelã do beijo da menina.
O cheiro de trabalho do homem ao lado.
O suave odor da primeira rosa enamorada.
O cheiro de cebola e alho nas mãos da mãe que já se foi.
O aroma das páginas do livro novo.
E da roupa nova.
A cumplicidade dos apaixonados.
A raiva.
A aflição.
O medo.
Os pensamentos ao adormecer.
As lembranças.
O amor.
A vida.