sábado, 9 de setembro de 2017

PEDRAS GRITARÃO

Nestes tempos em que a angústia assola a humanidade, trazendo temores e apreensões; em que as ameaças se concretizam em forma de pessoas inconsequentes, de grupos que se  pautam pela intolerância... Nestes tempos em que o homem sente   falta de segurança, em que percebe a irresponsabilidade e despudor de governantes e políticos... E mais ainda, nestes tempos em que a pequenez humana fica patente diante de catástrofes  provocadas pela própria  natureza...
Nestes tempos é bom lembrar  Mário Quintana e sua poesia, que nos faz refletir, sempre.

O SEGUNDO MANDAMENTO

Bem sei que não se deve dizer Seu santo nome em vão.
Mas, agora,
o seu nome é apenas uma interjeição
como acontece com "Minha Nossa Senhora!"
-  este belíssimo grito tão certamente errado
como o faz tanta vez o povo em suas descobertas.
A voz do povo é um Livro de Revelações.
Só tem que o tempo as foi sedimentando em sucessivas     camadas
E elas agora nos dizem tanto como uma pedra.
Agora restam-nos apenas as palavras técnicas
pertencentes ao vocabulário inerte dos robôs.
Porém um dia as pedras se iluminarão milagrosamente por dentro
porque só termina para todo o sempre o que foi artificialmente construído...

Um dia,
um dia as pedras gritarão!

Mário Quintana
Baú de Espantos
Rio de Janeiro, Objetiva, 2014

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