A palavra Nenê apresenta diversas conotações.
O nenê é a criança recém nascida, o bebezinho admirado e amado pela família. Sua pronúncia, afetuosa, muitas vezes se nasaliza e tias e avós se aproximam do pequeno ser com a frase: Onde está o neném da vovó? Cadê o neném da titia?
Muitas vezes identifica o caçula. Enquanto os irmãos têm seus nomes ou seus apelidos, o mais novo dos irmãos continua sendo o Nenê. Deixa de ser uma designação para ser um apelido, um nome. E por vezes o Nenê envelhece e continua sendo o Seu Nenê...
Mas não é privilégio de crianças do sexo masculino, Nenê designa meninos e meninas. Deixa de ser o Nenê para ser a Nenê.
E por toda a vida lá se vão as Donas Nenês, as Tias Nenês...
Todo esse prólogo para falar sobre duas Nenês que guardo com carinho em minhas remotas lembranças.
Dona Nenê era mãe de minha madrinha de batismo, Ignez. Com certa regularidade, minha mãe ia visitar a comadre e consequentemente a família. Era uma grande família que vivia em três casas em um mesmo amplo terreno. Ficava no Braz, em São Paulo e, se a memória não me prega peças, a casa da madrinha era a segunda. Entrávamos por um pátio lateral, largo, com pouca vegetação e foi lá que aos nove ou dez anos permiti que um dos meninos beijasse meu rosto...
Não me esqueço da figura forte que nos recebia com carinho. Com ela aprendi a fazer panquecas e a receita, que sigo até hoje, não falha: 1 copo de leite, 1 xícara de farinha, 1 ovo e uma pitada de sal.
Todas as vezes que sirvo as panquecas recheadas lembro-me de Dona Nenê e de minha infância feliz.
A outra Nenê, conheci mais por conversas e informações de minha mãe e de minhas irmãs. Tia de minha mãe, Tia Nenê cuidou do cunhado viúvo com três filhos, a mais velha com 16 anos, minha mãe com 14 e o caçula de 11 ou 12 anos. A irmã, minha avó Hermínia, faleceu cedo, de doença desconhecida, que foi paralisando seu corpo até a falência total. A Professora Hermínia Villaça Camorim, formada pela Escola Normal Caetano de Campos, no século XIX, que se orgulhava de não ter faltado um só dia às aulas durante a epidemia de gripe espanhola, não resistiu aos dias em que ficou abrigada em um porão, enquanto a revolução de 1924 acontecia nas ruas de São Paulo.
Tia Nenê cuidou dos sobrinhos e depois de um sobrinho postiço, com quem viveu até falecer.
Lembro-me de Tia Nenê, em uma visita que nos fez, sentada na cama de minha irmã mais velha, a fazer uma trança no cabelinho ralo e grisalho. Já era idosa e pouco convivi com ela.
Por mais que me esforce, as lembranças são de fatos narrados por minha mãe ou meus irmãos. Essa imagem, da mulher franzina a trançar os cabelos, embora seja a única, é extremamente nítida em minha mente. Mas, ao lado de outras lembranças, constrói o extenso álbum de imagens afetivas, que constituem minha história de vida...
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