Moça com brinco de pérola
Jan Vermeer
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Na obra de Vermeer, "Moça com brinco de pérola", o que sobressai é, sem dúvida, o brinco, com seu brilho, seguido imediatamente do olhar da moça.
Sem que houvesse qualquer relação, o texto a seguir, escrito há alguns anos, traz também, como detalhes, o brinco e o olhar...
SALA DE ESPERA
Pegue
sua ficha e aguarde a sua vez
À primeira vista, poderia passar por uma adolescente como tantas outras
com quem cruzamos na rua, nos bares, nas tardes ensolaradas de uma cidade
qualquer.
A
calça justa, a blusa que sugere um corpo jovem, os tênis da moda, tudo é cor, é
movimento, é vida.
Mas
não o rosto. Observe o rosto atentamente. Neste momento está virado para a
janela, perscrutando o horizonte em busca talvez de um pouco de azul entre o
cinzento da cidade. Por isso só vemos os cabelos negros, lisos, curtos. Uma
ponta de orelha e um brinco, inexplicavelmente, saborosamente amarelo.
Mas,
enfim o rosto. Ela se volta e o contraste é tão grande que é impossível desviar
os olhos, é impossível até mesmo respirar. Um hiato e percebo que todos, como
eu, a observam.
Ela
não se perturba. As pálpebras semifechadas,
os olhos não vêem o entorno, circundados por olheiras arroxeadas. O que
mais impressiona é a palidez. Translúcida a pele, deixa entrever veias azuis
que pulsam. Ou seria apenas impressão? Mas o nariz fino é real e a boca sem cor
alguma é bela mas contraída, num rítus amargo.
Uma
porta se abre, uma voz que chama e um par de olhos azuis, imensos se revela e
nos perdemos nesse olhar, misto de medo e resignação, de tensão e esperança.
Vida e de morte, se entrelaçando,
aguardam um destino ou uma sentença.
O próximo, por favor...