Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
PRADO, Adélia. COM LICENÇA POÉTICA. In: MORICONI, Italo. OS CEM MELHORES POEMAS BRASILEIROS DO SÉCULO. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.p.247.
Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade
Voz: Paulo Autran
Youtube
Tão bonito!
ResponderExcluirUma escolha excelente. Obrigada.
Beijinho.
Eu que devo agradecer pela visita e pelo comentário. Beijo.
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