A GRANDE SEMENTE
VERA CHAVES BARCELLOS - 1973
Nosso cotidiano tranquilo, feliz, com a família em harmonia: crianças crescendo, jovens e adultos estudando e trabalhando, os mais velhos, entre os quais me incluo, usufruindo de uma vida mais calma... Essa realidade contrasta totalmente com o que se vê, o que se ouve, o que se lê.
Atentados, terrorismo, assassinatos, manifestações com tumulto e saque, pessoas sendo mortas, atacadas: uma sociedade em crise! Essa parece ser a realidade deste nosso mundo o que nos faz parecer culpados pela vida tranquila que vivemos.
Peço perdão por ser feliz....
E para encerrar este domingo de verão, tórrido e seco, lembro a doçura e leveza de Vinícius de Moraes, o nosso inesquecível Poetinha, que soube como ninguém descrever o sentido da vida
POEMA DE NATAL
Vinícius de Moraes
Para isso fomo feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Observação: o blog ignorou a formatação original do poema : quatro estrofes, colocando versos soltos. Não consegui mudar a formatação... JG.
VINÍCIUS DE MORAES In: MORICONI,Italo. Os cem melhores poemas brasileiros do século.Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.
VERA CHAVES BARCELLOS: http://mam.org.br/acervo/1997-077-000-barcellos-vera-chaves/
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