Vivíamos a poesia e a literatura em minha casa. Após o jantar, nossa mãe contava o que havia escrito naquele dia, às vezes triste pela morte de uma personagem, às vezes em dúvida sobre o que haveria de acontecer...
A cada livro publicado, a alegria de mais uma obra finda, em mescla com a dificuldade da distribuição de uma publicação independente... Mas isso não a assustava e logo havia nova história, novos poemas, um novo livro.
Trago hoje dois poemas de Botyra Camorim, minha mãe.
ESCALAS
Envolvida por cadeias,
segui todos os caminhos
presa e livre, ao mesmo
tempo.
Em cadeias diferentes,
passo a passo conheci
as escalas do sentimento.
Difícil
caminhada! Profundamente sentida.
Hoje
ao final da jornada,
já
na última escala,
com
alegria reconheço,
minha
vida foi bem vivida.
Sem
dúvida posso dizer,
valeu
a pena viver!
(Sentimentos
– Botyra Camorim - 1981)
TEMPESTADE
As nuvens cor de chumbo,
tocadas pelo vento,
vão se agrupando
e pelo céu se espalham.
Em
pleno dia,
parece
entardecer.
Luminosos ziguezagues,
riscam o céu seguidos do
trovão.
De repente, a chuva cai
em bátegas violentas,
açoitadas pelo vento.
Por longo tempo o que se
ouve,
é o desabar das águas
lavando o casario, o
arvoredo,
o asfalto.
E
como veio,
a
tempestade vai.
Uma
nesga do céu se descobre
muito
azul
e o verde da serra,
com
novo brilho se destaca.
Abrem-se
portas e janelas.
A vida continua.
(Sentimentos – Botyra Camorim - 1981)
Luz do sol - Caetano Veloso
Youtube
Panteão - Roma
Fotografia: Ana Flávia
A minha avó e madrinha, eu adorava dizer isso para falar que ela era mais minha que de todo mundo, era muito legal.
ResponderExcluirAprendi coisas interessantes com ela.
Adorava sentar e ficar ouvindo as histórias da família que ela tinha pra contar.
Obrigado tia pela lembrança.
Tivemos o privilégio, ambos, de conhecer os dois lados: a mãe, avó e a escritora, sempre em busca do conhecimento e sempre envolvida com a imaginação e a inspiração. Devemos agradecer por isso. Beijos, querido, saudades.
ExcluirJane,
ResponderExcluirOs poemas da sua mãe são lindos.
Obrigada pelos votos do dia 24. :)
Que beleza aqui encontro.
Beijinho. :)
Esqueci-me de dizer que o Panteão de Roma é o meu monumento favorito daquela cidade. Grata pela recordação. :))
ResponderExcluirÉ o meu também, Ana. Parece que lá, o tempo parou e quando ultrapassamos o pórtico, retornamos a um mundo que não mais existe. Beijos, obrigada pelas palavras aos poemas de minha mãe.
ExcluirBom dia Jane!
ResponderExcluirA sua mãe é uma poetisa de mão cheia!!!
Que bom ter usufruído de um ambiente onde a cultura das letras era e é uma constante. Parabéns.
Um grande abraço de amizade.
M. Emília
Obrigada, Maria Emília. Sou realmente privilegiada. Tive uma mãe que deixou, a mim e a meus irmãos, além do gosto pela boa literatura e boa música, exemplos de integridade e retidão. Abraços, obrigada pela presença.
ExcluirExcelente
ResponderExcluirBoa memória
Obrigada pelas palavras e pela presença. Abraços.
ExcluirVenho só deixar um beijinho e trazer-lhe o poema que é uma maravilha. :)
ResponderExcluirÉ hora do chá
– Que fazes, Ritinha,
assim tão brejeira?
– Eu sirvo um bom chá,
que fiz na chaleira,
às minhas bonecas,
pois é brincadeira.
Helena Pinto Vieira, O mundo da criança, vol. I, Rio de Janeiro, Delta: 1975.
Durante muitos anos, O mundo da Criança foi leitura preferida... Até adolescente, continuava consultando, vez ou outra. Obrigada por me trazer aromas e prazeres da infância. Beijo, bom final de semana.
ExcluirObrigada Jane pela visita e comentário.
ResponderExcluirMuito bonitas as poesias da sua mãe,certamente um orgulho publicá-las.
Estou um pouco afastada dos comentários , as vezes apareço para retribuir agradecer mas ainda não voltei aos amigos.Espero fazer em breve.
abraços e tenha uma boa semana.
Obrigada, Lis, pelas palavras e pela presença. Beijo.
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