terça-feira, 25 de julho de 2017

O FIM DA HISTÓRIA

Sobre inspiração, construção e produção literária

As palavras fogem de mim, como passarinhos ariscos, no canteiro da praça. Em vão corro até elas, cerco-as, mas elas se perdem no vazio...
As ideias, irmãs das palavras, também escapam e ambas, unidas se recusam a aproximar-se.
É uma batalha constante, geralmente perdida, e a página em branco aguarda o toque mágico da tecnologia, que a faça transbordar em sentimentos e imagens.
As outras páginas, já preenchidas, aguardam empilhadas, sobrepostas, em calmaria. Esperam pelas próximas, que venham completar a última linha, reatar o fio da narrativa, para que, finalmente, possam enfeitar-se com o ponto final, derradeiro, da obra acabada.
Mas, a situação se mantém, e as mãos sobre o teclado aguardam a organização das ideias;  que riem de mim, afinal estão todas ali, as ideias, apenas não há uma bússola que possa nortear essa embarcação de sonhos...
Suspiros são a trilha sonora desses momentos. 
A ideia, a conclusão, o encerramento está traçado. Brinca em minha mente esperando apenas a ordem, a organização do pensamento. Mas como? 
Brincalhonas, as palavras continuam a correr em seus passos de passarinhos ou  a voar, recortando sua silhueta no céu azul.
E eu aguardo, impaciente. Certamente chegará o momento, a hora certa e alinhadas elas tomarão seu lugar na folha branca e poderei finalmente escrever FIM. 




GOOGLE IMAGENS
https://garuvanet.com/index/poema-semantica-sons-e-palavras/

sábado, 15 de julho de 2017

POEMA PARA UMA TARDE AZUL





O poema abaixo foi escrito há anos e registrado aqui em uma de minhas primeiras postagens. 
Achei oportuno transcrevê-lo, depois de alguns poucos dias de pleno azul, mar e descanso.

AZUL DRUMMOND

Em plena tarde azul
ausente de desejos
ou mágoas ou temores,
o olhar inebriado de luz e cores
- rosa dourado derretendo o dia -
busco encontrar sentido,
tento achar respostas
a perguntas perdidas na memória dos tempos...
As mesmas perguntas sem respostas
feitas desde que se percebeu ser no mundo,
as mesmas perguntas que a fé responde sem provas concretas
e a ciência busca em vão.
Nesta tarde inebriante de azul,
identifico-me, apenas,
entrego-me.
Perco-me no azul, na intensa luminosidade que me envolve,
apagam-se perguntas, perdem-se respostas,
sou apenas azul, dourado e róseo, derretendo o dia.

Imagem: https://www.colegioweb.com.br/curiosidades/cor-ceu-como-se-explica.html

terça-feira, 4 de julho de 2017

PERDAS

Muito tenho falado sobre a alegria que inunda minha vida, e sei que para muitas pessoas essa alegria é constante, ou ao menos surge com muita frequência.
Entretanto, se analisarmos friamente nossa vida, veremos que ela é feita de constantes perdas. Acomodamo-nos a elas, esquecemos, ou tentamos esquecer e seguimos em frente. Mas as perdas... sim, elas caminham conosco, sempre.
A primeira delas surge quando abrimos nossos olhos para a vida. Perdemos o calor e aconchego do seio materno para um mundo frio e inseguro. Aos poucos nos acostumamos com essa insegurança e nos sentimos protegidos e amados pelos braços maternos. 
Mas as perdas continuam e ainda pequeninos somos deixados com estranhos, sejam babás, creches, escolinhas e choramos sim, com medo. Mas, nos acostumamos...
Passam-se os anos e perdemos... os dentes! Outros virão certamente, mas até que venham somos os "banguelinhas", temos "janelinhas" na boca. E nos acostumamos...
Crescemos, perdemos nossa aparência fofinha, engraçadinha, para nos tornarmos adolescentes desengonçados, com braços e pernas longas;  às vezes com espinhas no rosto; os meninos perdem sua voz que se torna estranha. Mas nos acostumamos...
E então vêm as perdas mais doídas: perdemos avós, perdemos às vezes os pais, ou irmãos, ou tios, ou amigos queridos. 
E, pela vida afora, perdemos e perdemos. Envelhecemos e perdemos dentes, muitas vezes perdemos cabelos, perdemos o equilíbrio, a visão clara e a capacidade até mesmo de pensar com coerência...
Analisando as perdas que sofremos pergunto-me como podemos ser felizes, como podemos sentir essa alegria que nos acompanha e nos nos faz sorrir até mesmo em momentos difíceis? 
Não sei.
Talvez a resposta esteja na certeza de que as perdas são inevitáveis e a esperança de momentos melhores esteja sempre conosco. Talvez o fato de viver um dia de cada vez, sem  rememorar a tristeza do dia anterior ou sem o medo do que virá...
Talvez simplesmente sejamos felizes por viver. Por conviver. Por amar. Por sermos amados. Por crer, seja qual for a crença que nos move.
Muitas são as perdas, sim,  mas muitos também são os motivos para viver, conviver e agradecer a alegria de cada amanhecer.



AMANHECER
http://blogdacynthia.blogspot.com.br/2012/03/amanhecer.html

   
Para Jairo, que nos deixou.