sábado, 26 de janeiro de 2013

LUZ DO SOL

MÃE E POESIA

Vivíamos a poesia e a literatura em minha casa. Após o jantar, nossa mãe contava o que havia escrito naquele dia, às vezes triste pela morte de uma personagem, às vezes em dúvida sobre o que haveria de acontecer... 
A cada livro publicado, a alegria de mais uma obra finda, em mescla com a dificuldade da distribuição de uma publicação independente... Mas isso não a assustava e logo havia nova história, novos poemas, um novo livro.
Trago hoje dois poemas de Botyra Camorim, minha mãe.


ESCALAS

Envolvida por cadeias,
segui todos os caminhos
presa e livre, ao mesmo tempo.
Em cadeias diferentes,
passo a passo conheci
as escalas do sentimento.

Difícil caminhada! Profundamente sentida.
Hoje ao final da jornada,
já na última escala,
com alegria reconheço,
minha vida foi bem vivida.
Sem dúvida posso dizer,
valeu a pena viver!

                        (Sentimentos – Botyra Camorim - 1981)

TEMPESTADE

As nuvens cor de chumbo,
tocadas pelo vento,
vão se agrupando
e pelo céu se espalham.

Em pleno dia,
parece entardecer.

Luminosos ziguezagues,
riscam o céu seguidos do trovão.
De repente, a chuva cai
em bátegas violentas,
açoitadas pelo vento.
Por longo tempo o que se ouve,
é o desabar das águas
lavando o casario, o arvoredo,
o asfalto.

E como veio,
a tempestade vai.
Uma nesga do céu se descobre
muito azul
e o verde da serra,
com novo brilho se destaca.
Abrem-se portas e janelas.
A vida continua.

(Sentimentos – Botyra Camorim - 1981)

Luz do sol - Caetano Veloso
Youtube


Panteão - Roma
Fotografia: Ana Flávia

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

DRUMMOND: MEU POETA PREDILETO

Dentre os vários poetas brasileiros que admiro, Drummond é o meu predileto. Sua poesia direta, mas profunda, seu lirismo despido de pieguice, seu olhar e o recriar da vida e do mundo me fascinam. Não me canso de ler e reler sua obra. 

Há sempre um poeta que nos toca mais, com seus versos.
Esse, para mim, é Carlos Drummond de Andrade.

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como doi!

ANDRADE, Carlos Drummond de. In: MORRICONI, Italo. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.

FOTO DE CASARIO EM ITABIRA - MINAS GERAIS
GOOGLE IMAGENS



TRECHOS DE POEMAS DE DRUMMOND
PROGRAMA ENTRELINHAS
TV CULTURA - SÃO PAULO
YOUTUBE

sábado, 5 de janeiro de 2013

ETERNO RECOMEÇAR

A Poesia está em nossa vida
como a luz que entra pela janela aberta, como o céu azul dourado do anoitecer, como a andorinha que voa ligeira nas tardes de verão, como o aroma adocicado da dama-da-noite, como o som das águas que batem nas pedras do rio...
Tudo está aí, sempre.
É preciso, no entanto, saber ver, sentir, ouvir...


UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO

Manoel de Barros



No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.

BARROS, Manoel de. Uma didática da invenção. In: MORICONI, Italo. Os cem melhores poemas brasileiros do século.
 Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.



REVOADA DE ANDORINHAS


Google imagens: danielthame.blogspot.com/2011



ANDORINHA - de Vitor Maia

Vitor e Renan no YouTube