sábado, 13 de julho de 2013

PURA POESIA


São de Eufrásio Filipe, poeta português, os poemas que trago hoje. A profundidade que emerge da simplicidade dos versos curtos, a sugestão de imagens, a presença do mar, figura constante, encantam o leitor, sensível ao sentimento que transforma a palavra em pura poesia.
Seus poemas podem ser degustados no blog http://mararavel.blogspot. com.br.


Espaço para cantar

Nesta aldeia
de mares imperecíveis
e sábios tristes
íntegro um pássaro do alto
entendeu por bem
atiçar o fulgor dos timbres
regressar ao cais
soltar os barcos
e partir
nas cordas vocais
de uma guitarra

Nesta aldeia
refúgio
à flor das águas

ainda há espaço para cantar
                                                     Eufrásio Filipe


Google Imagens

Roubem-me tudo

Roubem-me tudo
os lápis de cores
as minhas flores preferidas

mas não me roubem
os olhos por onde vejo
um mar que não se verga

roubem-me tudo
menos um verso
                                          Eufrásio Filipe




A ostra e o vento
Chico Buarque de Holanda
Youtube

domingo, 7 de julho de 2013

UM BOM TEXTO

O que pode ser considerado um bom texto?

Durante anos, em sala de aula, procurei orientar os alunos a escreverem bons textos. Não sei se consegui. Alguns ainda guardo, pois a poesia, presente nas linhas adolescentes, destacava-se dos vários outros que refletiam  a dificuldade de transpor para o papel as ideias que brotavam sem freio, ou então as poucas ideias que o tema despertava. A busca pelo bom texto, pelas palavras certas, pela sequência lógica, foi sempre uma preocupação.

Dos alunos que tive, alguns são hoje poetas, alguns jornalistas, muitos professores. Mas, dentre eles,  havia aqueles que surpreendiam e superavam minha expectativa.

Tudo isso apenas para comentar uma crônica que li hoje, no Estadão, assinada pelo Fábio Porchat. 

Já admirava esse menino, novo ainda, e sua capacidade de nos fazer rir, nos programas da TV. Agora ele assina aos domingos uma crônica, ora com um humor inteligente, ora com uma crítica interessante. Mas a de hoje é emoção pura. Fala dos sentimentos ao ver que a casa em que morou na infância não existe mais. 

Ao terminar de ler a crônica, com olhos marejados, constato que o bom texto é aquele que  toca o leitor, que faz despertar  a emoção e compartilhar o sentimento.

Minha casa minha vida (trechos)
Fábio Porchat
[...] Dia desses, resolvi, a caminho do hotel, passar pela minha antiga rua, pra matar as saudades. Quando parei o carro na frente da casa, qual não foi minha surpresa? Não havia mais casa, só um buraco gigante entre os meus vizinhos. A casa foi demolida. [...]

De repente, pensando em tudo isso, parado, perplexo, eu vi minha casa ali de novo, na minha frente. Exatamente como eu havia deixado. E percebi que, na verdade, ela só tinha sido demolida se eu estivesse de olhos abertos. Se eu fechasse os olhos, a casa estava lá, pronta pra morar, com todos os móveis, com toda a minha família comemorando o meu aniversário de dez anos, com minha irmã chorando porque eu impliquei com ela, a minha mãe costurando durante a noite enquanto assistia a um filme na sala, com o meu quarto cheio de bonequinhos do He Man... Pense na casa da sua infância agora. Feche os olhos. Viu? Ela também está lá. E digo mais. Se bobear, nós somos vizinhos!

O ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno 2. p C6.  07/07/2013. 


quinta-feira, 4 de julho de 2013

MEU QUINTAL II


Aproprio-me  da aquarela de Marlene Edir 
(alemdoquintal.blogspot.com.br) 
para introduzir minha postagem de hoje.


Dia com chuva - Aquarela - (detalhe)
Marlene Edir

Escrevi o texto abaixo há quase dois meses.. Com a correria de final de semestre, ficou em rascunho até hoje. O que era prenúncio de inverno,  já é inverno pleno, com temperaturas baixas para nós, que temos um tempo ameno e mais propenso ao calor. Mas o quintal está quase todo verde. A grama cresce, as plantas voltam a ter viço. A vida recomeça...

MEU QUINTAL II

Um coro de andorinhas invadiu meu quintal hoje, após a chuva forte que trouxe novamente o  frio, prenunciando o inverno. Corri para recolher a roupa que balançava ao vento, quase seca, neste domingo preguiçoso.

Após a reforma, meu quintal é agora apenas área de lazer, tudo o que lembra trabalho:  materiais de limpeza, baldes, bacias, etc, ficam na área de serviço, próxima à cozinha, e  os varais, por sua vez, ficam na área lateral de minha casa. Motivo de reclamações do Júlio, que não se conforma em ver o sol forte lá no fundo e a roupa a secar na área sombreada, que recebe, neste outono, apenas o sol forte do meio dia.

Lá no fundo,  já passaram os pedreiros, os pintores, o eletricista, falta agora apenas o jardineiro para recuperar a grama destruida e replantar o que consegui salvar em vasos.
Felizmente o pé de café resistiu, bem como o arbusto - neve da montanha -  que trouxe em forma de semente de Águas de São Pedro e hoje  está forrado de flores brancas.

Reli minha postagem de outubro (01/10/2012) e percebo que já se passaram sete meses. Do projeto à construção terminada foram tempos difíceis, em que tentei conciliar obra, trabalho, crianças, rotina da casa e da Faculdade. O corpo cansado e a mente inquieta pediam momentos de descanso, que eram poucos frente ao acúmulo de tarefas e encargos.

Mas finalmente, a casa volta à tranquilidade, sem o vaivém de trabalhadores, apenas com a correria dos netos que aqui passam todas as manhãs.

Mais algum tempo e meu quintal estará pronto para a preguiça do domingo, na rede,  para o canto dos passarinhos e finalmente para o renascer da vida em forma de flores e frutos.

Amora
Renato Teixeira
Youtube