segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Janelas


Há quem diga que em nossa vida há muitas janelas;
As que iluminam, as que aquecem, as que deixam passar o ar fresco da manhã.
Há entretanto aquelas pelas quais entram vendavais, invadindo nossa vida,
Trazendo a tristeza, a insegurança, o medo.

É preciso então saber abrir a janela certa,
E se acaso feridos e tristes, ter a certeza de que outra se abrirá,
Trazendo a luz e o calor para acalmar a vida...



(Torre de Belém, Portugal)

domingo, 27 de setembro de 2009

Contemplando

Há pessoas que passam pela vida e não levantam os olhos para as pequenas maravilhas que a natureza, por si mesma, ou a mão do homem nos oferecem. Contemplá-las é, para alguns que passam, perda de tempo, coisa banal. Para outros, estão invisíveis, não as enxergam, ensimesmados em seus problemas, suas moedas, seu poder.

Entretanto há aqueles, entre os quais me incluo, que reverenciam ao Ser Supremo pela alegria de um entardecer dourado, pelas obras do homem que permanecem indiferentes ao tempo, por todos aqueles momentos vividos em que pudemos ver, admirar...

Maior tesouro é esse, que ninguém ou nada jamais roubará de nós. A alegria do contemplar.


Compartilho esses tesouros, com aqueles que também contemplam, que também admiram, que também agradecem...



Vaticano, estátua de São Pedro.




Florença, Loggia della Signoria, obra de Cellini: Perseu.




Pequena obra prima da natureza. Não há como imitar!

sábado, 19 de setembro de 2009

CARMO

Trezentos anos de recolhimento e preces contemplam a praça, impassíveis ao passar do tempo e das gerações.
Do alto da torre, os sinos centenários, emudecidos, parecem dormir. Só despertarão ao sol do meio dia, quando seu som festivo espantará os pombos que se abrigam nos beirais.

Janelas e portas fechadas, de um verde forte, destacam-se na parede branca irregular, protegendo a riqueza de seu interior: imagens, pinturas, entalhes, reunidos em uma atmosfera de sombra, silêncio e paz.

O contorno domina a praça, de tradição e história perdidas e aviltadas; imponente, vê passar pessoas de todas as idades, raças, destinos, desejos...

Igreja e praça se integram, e por sobre as pedras irregulares passam sons e sonhos, dores e amores, em busca do alento ou da salvação. Reúnem-se em um único espaço, que perdurará repleto de história e de histórias, misto de tradição e modernidade, passado e presente fundindo-se em um tempo que passa, fugaz.

À luz do sol a igreja brilha e atesta seu poder e permanência: passarão os tempos e ela estará lá, repicando sinos e recolhendo orações.

domingo, 6 de setembro de 2009

Tudo que se esvai


Luz do entardecer.
Sol no horizonte.
Formas das nuvens
... negras da tempestade.
Areia no rodamoinho.
Caminho da gota na janela.
Sereno sobre a folha.
Vapor ao sol da manhã.
Chuva ao vento forte.
Imagem vista da janela
... do trem
Areia na ampulheta.
Desenho na areia da praia.
O verde no solvente.
Também o amarelo, o vermelho, o azul, o branco.
O sorriso na boca.
A lágrima nos olhos.
O abraço.
O beijo.
Os rostos na janela do ônibus.
A fumaça da fábrica.
O café, no leite - mistura, fusão.
A manteiga no pão quente.
O açúcar na panela ardente - transformação.
O gesto.
A palavra.
O olhar puro do menino.
O suspiro do amante.
O pulsar do coração agonizante.
O creme no corpo.
A música trazida pelo vento.
A última badalada do velho sino da igreja.
O cavo som da pedra no fundo do poço.
O riso da criança.
O soluço do peito.
O doce aroma da dama da noite.
O perfume da moça que passa.
O sabor de hortelã do beijo da menina.
O cheiro de trabalho do homem ao lado.
O suave odor da primeira rosa enamorada.
O cheiro de cebola e alho nas mãos da mãe que já se foi.
O aroma das páginas do livro novo.
E da roupa nova.
A cumplicidade dos apaixonados.
A raiva.
A aflição.
O medo.
Os pensamentos ao adormecer.
As lembranças.
O amor.
A vida.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tranças

Na praça, a árvore, na árvore, o banco,

banco-raiz

e no banco a menina de tranças, sentada,

limitada ao espaço físico da praça,

liberta em voos da imaginação.

As tranças, a árvore, a praça: os limites.

A fuga do real para o sonho, o presente, o futuro,

em palavras, por outros pensadas,

tesouros impressos a descobrir,

a levar, elevar, conduzir...


Hoje, mudou a praça,

não há mais banco-raiz,

não há mais árvore,

nem tranças,

apenas o sonho permanece a opor-se à realidade,

apenas as palavras, os sentidos, tesouros alheios,

apropriados,

apenas o alento do conhecer, do desvendar:

fuga do cotidiano, das limitações, do real,

para o infinito e ilimitado voo da imaginação.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Perdão

Peço perdão pelo que não foi dito,
pelo que não foi visto,
pelo que não foi feito...
Peço perdão pelas palavras não pronuciadas,
pelos olhares desviados,
pelos gestos reprimidos.
Peço perdão por tudo aquilo
que se deixou de realizar,
pela indiferença,
pela omissão...
E só por isso eu peço perdão:
pois o que foi feito,
e visto,
e dito,
fosse certo ou errado,
pensado ou irrefletido,
ao menos foi vivido
e sentido!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Perda

E então vem a paz
e o coração descompassado
volta a bater tranquilo, sem sobressaltos
ou temores...
As lágrimas secam, o olhar se firma
e até consegue vislumbrar o que de belo existe.
Os passos que, indecisos, buscavam um caminho,
- um retorno?
agora já fortalecidos, seguem sem receios
ou dúvidas.
Buscam o futuro,
a vida,
o amanhã
e quem sabe, talvez caminhem
ao encontro de um novo amor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ruas da minha infância

Relembro as ruas que palmilhei,
menina ainda,
descobrindo o mundo, aprendendo a viver...
Lembro-me do sol,
sol de agosto, abafado,
o vento quente, a tarde avemelhada.
No fim da rua, a amarelinha,
o sol aquecendo o corpo,
o vento balançando as tranças...
Ruas da minha infância,
a saudade bate mansinho quando novamente
percorro meus caminhos,
e a menina, adormecida em mim,
brota na mulher:
presente e passado se encontram
e continuam, a passos largos
em direção ao futuro certo,
ou incerto?
Quem sabe...

domingo, 2 de agosto de 2009

Praia

De um lado, a civilização envolta em cinza:
cinza nas nuvens carregadas,
cinza no concreto que a envolve,
cinza nas almas...
Do outro lado, a luz
reverbera em cores: azul do céu, róseo das nuvens, verde do mar.
Aos meus pés, a natureza revela sua perfeição
em estrelas e conchas,
ligeiros, minúsculos, peixinhos correm atrás das ondas.
Indiferentes, convivem com a indiferença do homem:
marcas, restos, lixo...
A manhã, tranquila, vai se construindo em sons e movimentos,
e a paz, aos poucos, se perde na maré que sobe
A faixa de luz, lentamente se desfaz,
é cinzenta a manhã...
A vida, agora desperta, segue seu rumo, sem parar,
e me leva em seu ritmo constante,
forte e envolvente, como ondas do mar.

domingo, 26 de julho de 2009

O semeador

No meio do campo ele para
e volve os olhos para o caminho percorrido.
Relembra a terra fértil que lhe foi entregue
ávida de semente e de cuidados.
Recorda o trabalho, preparando o solo,
o depositar da semente,
o carinho, o desvelo,
o despontar dos brotos,
primeira resposta ao seu labor.
As dificuldades que enfrentou,
tempestades e vendavais,
sem desânimo ou desalento,
constante presença
a refazer,
a recomeçar, sempre...

E agora ele se volta para o que o espera:
novos campos, novas terras, novas sementes,
novas dificuldades também...

Mas o ideal é forte
e ele segue sua missão sublime:
fazer crescer a planta,
fazer nascer o broto,
fazer brotar a vida!

Azul Drummond



Em plena tarde azul

ausente de desejos

ou mágoas ou temores,

o olhar inebriado de luz e cores

-rosa dourado derretendo o dia -

busco encontrar sentido,

tento achar respostas

a perguntas perdidas na memória dos tempos...

As mesmas perguntas sem respostas

feitas desde que se percebeu ser no mundo,

as mesmas perguntas que a fé responde sem provas concretas

e a ciência busca em vão.

Nesta tarde inebriante de azul,

identifico-me, apenas,

entrego-me.

Perco-me no azul, na intensa luminosidade que me envolve,

apagam-se perguntas, perdem-se respostas,

sou apenas azul, dourado e róseo, derretendo o dia.

terça-feira, 14 de julho de 2009




Neste espaço, pretendo que convivam os meus textos - que escrevi ou escreverei - com aqueles que amo: de poetas conhecidos ou desconhecidos, de pessoas com quem convivo ou convivi; enfim, que seja um diálogo terno entre palavras, versos, frases, idéias...