quinta-feira, 24 de agosto de 2017

DECORAÇÃO AFETIVA

Gosto de folhear revistas de decoração. Os espaços sempre harmônicos em cores e linhas, móveis modernos ou tradicionais, os revestimentos, os objetos de adorno, enfim, agradam meus olhos. Um prazer estético, uma ideia, talvez...
Mas, o que falta a esses espaços? Certamente o objetivo da revista não é mostrar o uso real desses aposentos e sim a melhor e mais harmônica ocupação do espaço: a colocação dos móveis, das almofadas, cortinas e tapetes, a melhor organização de uma cozinha ou área de serviço.
Repito, o que falta a esses espaços?  Um pouco de vida, talvez?
Não há um par de tênis infantil ao lado do sofá, ou um agasalho esquecido sobre a cadeira, ou ainda uma correspondência recém chegada, uma xícara de café sobre a pia.... Tudo é muito arrumado, tudo é muito perfeito.
Olho então para minha sala e percebo que nela a decoração é puramente afetiva. Com exceção da TV, e do móvel que a comporta, dos sofás e mesinhas, tudo tem uma história. 
Comecemos pelo piano, que foi de minha mãe e tem a enfeitá-lo fotos dos filhos e dos netos, acompanhados de duas recordações de viagens: um Dom Quixote que veio de Madri e uma Namoradeira que trouxe de Minas. Também foi de minha mãe a cadeirinha de balanço Thonet, enfeitada por uma das duas almofadas que foram lembrança de casamento do filho caçula.
Nas paredes, os quadros são obras da Flávia, minha filha e o prato de madeira, quase uma mandala, ganhei há muito tempo de minha irmã Jurema, que já se foi. 
Mas ainda há mais: o prato de cerâmica, arte de meu amigo Zaramello, a caixinha de couro em que ficam os controles da TV, presente de outro amigo querido, Ricardo Feital, e que tem como enfeite a foto do portão de Brandemburgo, lembrança de nossa viagem a Berlim.
Esses objetos todos, e outros ainda, que não são relacionados pois tornariam enfadonho este texto, têm relação com pessoas, momentos, fases da vida. Alguns deles compuseram outros espaços, em outras épocas. Outros ainda foram lembranças de pessoas a quem quero bem. E nessa sala, repleta de ternura, carinho e saudade, meu neto caçula constrói sua fortaleza, ataca e se defende de inimigos imaginários, dá suas cambalhotas ou empilha almofadas... 
É a vida, seguindo seu curso...
É a vida que torna essa sala, certamente sem a perfeita harmonia das revistas, um espaço  de aconchego, de paz,  a certeza da perenidade do afeto, ultrapassando o tempo e o espaço.

Imagens Google
mg.olx.com.br