sábado, 21 de setembro de 2013

ELA ESTÁ CHEGANDO!

Amanhã, ela vai chegar.
Perfumando a vida, 
invadindo olhares com suas cores, 
alegrando a alma com sua beleza.
É primavera!






FLORES DO NOSSO QUINTAL
Fotos de Ana Flávia Gatti

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

VIOLA E PAIXÃO




A princípio foi a música. 
Aqueles acordes doídos, profundos, atingiram-na, sobrepuseram-se à conversa. "Escutem, é música de viola..." Não a escutaram, a discussão esquentara, política inflama as pessoas, a música e a viola  tocavam somente a ela.
Aproximou-se da janela, a brisa quente trazia a melodia dedilhada, em tons menores, plangentes...
Silêncio, algumas palmas, "toca outra, mais uma..." Da sala vizinha, os sons recomeçaram, mais alegres agora. Ao seu lado a discussão: recessão, arrocho, terceiro mundo...
Hoje não queria discutir ou propor melhorias ao seu país, hoje queria apenas... ouvir uma moda de viola. A passos lentos dirigiu-se à sala vizinha. 
Viu primeiro a viola, a madeira polida refletindo a luz. As cordas, vibradas com maestria, tremiam, ora gemendo, ora chorando, ora vibrando em alegres sons.
Em seguida notou as mãos: magras, ágeis, longos dedos morenos que acariciavam as cordas em um misto de força, segurança e meiguice.
Só então observou o dono daquela viola, o dono daquelas mãos, o senhor daquela música. 
Curvado sobre o instrumento, os cabelos longos sob o chapéu, os olhos semicerrados, sentindo a melodia.
As palmas que se seguiram ao silêncio das cordas, fez com que ele levantasse os olhos e nesse momento se olharam pela primeira vez.
"Esta é para a moça dos olhos azuis."
Todos se voltaram para ela, que sentiu o rosto queimar.
Logo a música recomeçou e a envolveu. Como numa nebulosa escutou os sussurros da  pessoa ao seu lado: "Como toca, não? É amigo do meu irmão, foi ele quem o trouxe. Dizem que é a melhor viola caipira daqui da região..."
Mas, nada disso importava. A música era uma conquista, cada nota um carinho, como mãos se tocando, se reconhecendo...
Novamente a viola se calou. Novamente os olhos se encontraram e ela agradeceu com um sorriso.
Percebeu que ele se levantava, pousava com cuidado a viola sobre a mesa e chegava até ela.
A melhor melodia começava a ser dedilhada agora. E a dois...


Um violeiro toca
Almir Sater
Youtube

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SOBRE NÚMEROS E CÁLCULOS: MALBA TAHAN

Conheci a obra de Malba Tahan ainda criança. 
Minha mãe nos contava histórias sobre divisões de camelos e cálculos incríveis, criações do escritor Malba Tahan, pseudônimo de Júlio Cesar de Mello e Souza.
O autor, professor e engenheiro, escreveu livos didáticos de matemática, assinados com seu nome real; e com o pseudônimo, vários livros de contos, histórias e lendas árabes. Seu livro mais conhecido "O homem que calculava", traz as aventuras de um calculista persa. Cada aventura traz um problema matemático e a resolução dada por Beremiz Samir "o homem que calculava".

Os  trechos que trago, retirados da obra citada acima, explicam de forma apaixonada e bela a ideia de número e da Matemática, como ciência:

Finda a prece, o calculista assim falou:
- Quando olhamos, senhora, para o céu em noite calma e límpida, sentimos que a nossa inteligência é franzina para conceber a obra maravilhosa do Criador. Diante de nossos olhos pasmados, as estrelas são uma caravana luminosa a desfilar pelo deserto insondável do infinito, as nebulosas imensas e os planetas rolam, segundo leis eternas, pelos abismos do espaço! Uma noção, entretanto, surge logo, bem nítida em nosso espírito: a noção de número.
[...]
O pensamento mais simples não pode ser formulado sem nele se envolver, sob múltiplos aspectos, o conceito fundamental do número. O beduíno que no meio do deserto, no momento da prece, murmura o nome de Deus tem o espírito dominado por um número: a Unidade! 
[...]
Do número, senhora, que é a base da razão e do entendimento, surge outra noção de indiscutível importância: é a noção de medida.
Medir, senhora, é comparar. Só são, entretanto, suscetíveis de medida as grandezas que admitem um elemento como base de comparação.
[...]
Em muitos casos,  [...] ser-nos-á possível representar uma grandeza que não se adapta aos sistemas de medidas por outra que pode ser avaliada com segurança e vigor. Essa permuta de grandeza, visando a simplificar os processos de medida, constitui o objeto principal de uma ciência que os homens denominam Matemática.
TAHAN, MALBA. O homem que calculava. 66.ed. Rio de Janeiro/São Paulo: 2005.

Malba Tahan
1895 - 1974
Google Imagens

Para  conhecer melhor a vida e a obra desse fascinante escritor, segue o endereço do site oficial: http://www.malbatahan.com.br/


domingo, 8 de setembro de 2013

SOBRE VIDA, TOSHIKO E BIBI

A vida tem me oferecido momentos de puro prazer nesses últimos dias. Talvez por que eu esteja com o tempo e a tranquilidade necessários para perceber e sentir esse prazer, sem as preocupações que o trabalho nos proporciona. Agradeço a Deus por todos esses dias de tranquilidade e paz.
Entretanto, é difícil, em nosso cotidiano, nos lembrarmos de agradecer a Deus, pelo dom da vida, simplesmente da vida, sem que estejamos comemorando uma data especial, sem um motivo específico. 
E hoje vivi momentos especialmente emocionantes na comemoração da amiga Toshiko Namie, que celebrou uma missa no templo budista, para agradecer pela sua vida... Simplesmente, para agradecer pela vida...
Há alguns dias, graças à gentileza de Nazih Franciss, que ofereceu uma noite especial no Teatro Frei Caneca, emocionei-me também com a presença, palavras e principalmente com a força de uma mulher de 90 anos que canta com a mesma emoção e a  mesma voz, firme e forte, que sempre encantou plateias brasileiras e estrangeiras: Bibi Ferreira, cantando Piaf, é também um exemplo de louvor à vida.
Duas mulheres, dois exemplos de vida. A primeira que admiro por sua integridade, competência, simplicidade e dedicação à família e aos amigos. A segunda, por seu exemplo de uma vida inteira dedicada à arte e à música, em especial.
Essas duas mulheres fazem com que se acredite que viver é bom, que viver é partilhar momentos de alegria, e que é preciso, sempre, abrir nosso coração para a vida e para os bons momentos que ela nos oferece.


Bibi Ferreira canta Edith Piaf 

Je Ne Regrette Rien/ Hymne à L'amour

Youtube



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

VISITA DA LUZ

Conheci o fotógrafo Cesar Saullo em uns dias de descanso e paz em sua pousada em Passa Quatro, cidade centenária em Minas Gerais. 
Trouxe comigo, além da alma descansada e o corpo feliz - hiato em minha então atribulada vida -duas obras desse artista: Quintais, fachadas não, em parceria com Guiomar Paiva e Aldeia de Minas, em parceria com o poeta Regis de Morais.
O poema, de Regis de Morais, e que dá título à postagem de hoje é uma das joias dessa obra que muito me encanta.

VISITA DA LUZ

Em um dos remendos do mundo, a luz descansa.
Peregrina dos espaços, acende assoalhos, cimentos, estuques;
Recosta no velho banco o seu cansaço ornamentado de
panelas.
Na serra, a andarilha dos azuis descansa.
Perfilada em puro respeito, a galinha recebe a luz que visita a pobreza.
Uma eternidade anônima acomoda-se no instante.
SAULO, Cesar; MORAIS, Regis de. Aldeia de Minas.
 São Lourenço, MG: Novo Mundo, 2002.