segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A VOZ DO NATAL

   Sábado vivi, juntamente com um grande número de pessoas, momentos de emoção e beleza, na apresentação das crianças do Colégio Santa Mônica de Mogi das Cruzes, nas janelas do prédio iluminado.
   Até mesmo a chuva que caía parou para ouvir as crianças entoando músicas natalinas, de louvor ao Divino Espírito Santo e outras mais, sempre harmoniosas...
   As mãozinhas enluvadas, que traduziam a letra das músicas na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, o balançar de corações, guirlandas, bandeiras do Divino e  guarda-chuvas ornamentados de fitas coloridas, acompanhados de luzes e cores, faziam brotar lágrimas e abrir sorrisos embevecidos em pais, avós, irmãos, enfim, todos aqueles que foram ver o coral do Santa Mõnica se apresentar sob a regência da Professora Francine Martins.
   Momentos como esse fazem desse tempo, como já disse anteriormente, um tempo especial.

       Foto copiada da página da Professora Francine, no Facebook

Lembro-me agora dos versos da antiga canção de Orestes Barbosa:

 Noite azul, sem igual, 
        Deus nos dê um Feliz Natal!
        Nosso lar está cheio de luz,
       Paz na terra, nasceu Jesus!


domingo, 9 de dezembro de 2012

NATAL

Gosto do Natal.
Gosto desse tempo de gente que se abraça e sorri, de gente apressada que passa nas ruas, carregando pacotes...
Gosto de ver olhos arregalados admirando luzes e cores, de ouvir sons harmoniosos, das vozes infantis ou adultas entoando canções tradicionais, de sentir o aroma do pinheiro que enfeita a sala...
Gosto de desembalar os objetos que enfeitarão a casa, cada um com sua história, sua procedência, repletos de afetividade, de lembranças de lugares próximos e distantes, de pessoas queridas que aqui estão ou que já não se encontram entre nós....
Gosto preparar listas de lembranças, tentando descobrir o que melhor cabe a cada um daqueles que fazem parte de minha vida, de minha história, de meu cotidiano...
Gosto de abrir a casa, na véspera do Natal, as luzes da árvore acesas, o ar quente e abafado entrando pelas janelas, a comida, feita com carinho, aguardando no fogão a hora de ir à mesa...
Gosto de ver a família chegando, perfumada, bonita, as crianças ansiosas pelos presentes, os adultos  se acomodando, lembrando outros natais, memórias afetivas, expressões de carinho...
Gosto da emoção que invade, na oração conjunta em que lembramos os nossos queridos que já se foram, em que agradecemos o que recebemos, o que partilhamos...
Gosto do Natal e de tudo aquilo que ele provoca no ser humano: a fraternidade, a solidariedade, o desprendimento, a compreensão, a reconciliação...

Que o Natal de todos seja iluminado, não apenas pelas luzes que acendemos, mas por todos os bons momentos, repletos de alegrias e partilhamentos,  que iluminam e aquecem nossa vida. 


Luz eterna, é Natal, tela  de  Elvio Santiago
(http://diadeestilo.com.br/wp-content/uploads/2011/11/Tela-Luz-Eterna-%C3%A9-Natal-baixa.jpg)

domingo, 25 de novembro de 2012

VIAJANTES DO TEMPO PRESENTE

Quem somos nós, viajantes do tempo presente?

COGITO

Torquato Neto

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.


NETTO, Torquato. COGITO. IN: MORICONI, Italo. Os cem melhores poemas brasileiros
 do século. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.





Foto: Relógios à frente da Estação de Saint Lazare. Paris.

domingo, 11 de novembro de 2012

A DANÇA DO UNIVERSO

É de Marcelo Gleiser o título acima. E é dele o trecho escolhido para hoje. 

A natureza jamais vai deixar de nos surpreender. As teorias de hoje, das quais somos justamente orgulhosos, serão consideradas brincadeira de criança por futuras gerações de cientistas. Nossos modelos de hoje certamente serão pobres aproximações para os modelos do futuro. No entanto, o trabalho dos cientistas do futuro seria impossível sem o nosso, assim como o nosso teria sido impossível sem o trabalho de Kepler, Galileu ou Newton. Teorias científicas jamais serão a verdade final: elas irão sempre evoluir e mudar, tornando-se progressivamente mais corretas e eficientes, sem chegar nunca a um estado final de perfeição. Novos fenômenos estranhos, inesperados e imprevisíveis irão sempre desafiar nossa imaginação. Assim como nossos antepassados, estaremos sempre buscando compreender o novo. E, a cada passo dessa busca sem fim, compreenderemos um pouco mais sobre nós mesmos e sobre o mundo a nossa volta

GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de criação ao Big-Bang.
São Paulo: Campanhia das Letras, 2006.




Sinais - Zé Ramalho
Youtube




domingo, 28 de outubro de 2012

PORTA ABERTA

Abro minha porta para o sol da manhã.
E ele me traz sonoridades aladas,
Perfume de flores, vida em movimento.

Abro minha porta para a aragem do entardecer.
E ela me traz risos de crianças que brincam,
murmúrio de riachos cantantes.

Abro minha porta para a noite aveludada.
E ela me traz brilhos de estrelas
e aromas adocicados.

Abro minha porta para a luz.
E ela invade a sombra confortável
que me cerca e me protege.

Abro minha porta para a tempestade.
E ela me traz o choro dos desabrigados
e o medo do desconhecido.

Abro minha porta para o grito das ruas.
E ela me traz a realidade que machuca
e o que de feio existe.

Apesar de tudo, minha porta estará sempre aberta:
para o bem, o belo, o seguro,
e também para o que foge a uma vida ideal.

Abro minha porta para a vida,
de olhos bem abertos para o que virá.
E ora aceito, ora luto,  cada vez mais forte, cada vez mais lúcida.


Foto: Porta em Toledo, Espanha: com autorização de Ana do blog (In) Cultura

A imagem, tão bela e sugestiva, foi o mote que inspirou o texto acima.
Foi tomada por empréstimo de Ana, do blog  (In) Cultura: (http://sonhar1000.blogspot.com.br) que acompanho com prazer, pois concretiza realmente o que se propõe: socializar a Cultura e, por que não, fazer "sonhar mil..."

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

COLCHA DE RETALHOS


Recorte com cuidado
Pedacinhos coloridos de emoção;
Toque cada um suavemente:
Sinta a textura,
A maciez, a sensação,
O carinho que neles se esconde.
Olhe, com olhos bem abertos,
Para a vida, para as paixões,
Para as mágoas, quem sabe...
Junte um a um, desfiando a paciência
Do compor, dispor e recompor...
No enlevo do criar,
Perceba a harmonia que se forma:
Encontro de carinhos, de mãos entrelaçadas,
De cores e de traços
Tão únicos, tão completos.
Conjunto fragmentado
Que se faz unidade.
Não tente entender, apenas olhe,
Apenas sinta, apenas viva:
Sua colcha de retalhos.


A lembrança desse texto, que foi tema de um espetáculo de ballet, me trouxe ecos de coisas nossas que, como a colcha de retalhos, compõem nossa identidade. 
Identidade que se reconhece na música de Villa Lobos, nas palavras de Ferreira Goulart e na voz de Ney Matogrosso. 




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sábado, 13 de outubro de 2012

SUPERAÇÃO

    Nesta quarta feira, tive reafirmada minha convicção de que uma escola, seja ela de que nível for, tem por obrigação,  oferecer a seus alunos o contato com a arte, a cultura, tanto a popular quanto a erudita. Muitas vezes relegado, em função de conteúdos, de informações, de avaliações sem fim, o contato com a arte oferece uma visão diferenciada do materialismo consumista que nos cerca.
    A emoção que transparecia no olhar da professora e dos alunos do curso de Letras da UNISUZ, que tiveram o privilégio de ver, ouvir e sentir a música do maestro João Carlos Martins, acompanhado da Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi e dos alunos da escola Jussara Feitosa Domschke, de Suzano, dizia muito mais do que as palavras que brotavam ainda ofegantes pelos momentos vivenciados.


João Carlos Martins e Orquestra Filarmônica Bachiana - SESI
Youtube


   "Música se faz com o coração" diz o Maestro e continua "cada vez que a gente aperta uma tecla é porque nela colocamos nossa alma e nosso coração". O exemplo de vida desse virtuose do piano que superou sua dificuldade,  tornando-se maestro e criando a Orquestra Filarmônica Bachiana,  a Bachiana Jovem e o projeto A música venceu, em escolas de ensino fundamental, emociona e nos faz acreditar que um mundo melhor ainda é possível.

    Para aqueles que desejem conhecer mais a respeito de João Carlos Martins trago uma reportagem que conta um pouco de sua vida.

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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

QUINTAL

Meu quintal está em fase de transição. 
Plantadas há mais de 30 anos, a dracena e a primavera se foram para dar lugar a um novo ambiente, necessário, mais aprazível, mais funcional...
O caule imenso da dracena consumiu uma tarde de trabalho dos dois jardineiros e com as plantas se foi uma etapa deste quintal, que viu meus filhos crescerem, ali brincando, jogando bola, tomando sol. 
Hoje, meus netos observam os pedreiros que erguem o novo espaço, atentos às mudanças, observando o ninho da rolinha, que, preservado dentro de uma lata, resiste ao movimento diário.




Seria tão bom se pudéssemos,  em nossa vida, fazer uma reforma assim tão grande, derrubando conceitos e preconceitos, arrancando o que machuca e perturba, construindo novas ideias, trilhando novos caminhos.






Comecei pelo quintal.Quem sabe, outras reformas estejam por vir...






Fotos: Flores do meu quintal.







sábado, 22 de setembro de 2012

TEMPO

Sem tempo para escrever... Sem tempo para criar... Sem tempo para sonhar...
O momento é de trabalho, de planos, de prazos, de tarefas a cumprir, enfim, a rotina de quem tem sob sua responsabilidade a gestão de um, ou melhor, dois cursos acadêmicos.
Peço desculpas aos que me seguem pela minha ausência nesses dias, em que as coisas "se embolam" como se diz na linguagem informal, por aqui.
Para me redimir, trago hoje três pérolas: Caetano Veloso,  Antonio Cicero e Vermmeer. O primeiro com a doce "Você não me ensinou a te esquecer", de Fernando Mendes;  o segundo permitindo que se reflita sobre guardar e perder  e o terceiro apenas para o prazer do olhar.

Caetano Veloso
Você não em ensinou a te esquecer - Fernando Mendes
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GUARDAR

Antonio Cícero

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma. 
Em cofre se perde a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, 
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve,  por isso se diz, por isso se publica.
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

MORRICONI, ITALO. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001



Moça com brinco de pérola
Johannes Vermeer
Google Imagens


domingo, 2 de setembro de 2012

O DISCURSO DO REI

Acabo de assistir ao filme "O discurso do rei", direção de Tom Hooper e com interpretação magistral de Colin Firth. Merecido Oscar para o ator, que fez com que nos angustiássemos a cada palavra a ser dita.
Como professora -  embora não mais em sala de aula - fico perguntando a mim mesma se todos temos consciência de nosso papel, enquanto formadores de leitores/escritores/falantes...
Uma palavra, um gesto, uma expressão podem tanto! Podem incentivar ou destruir, construir ou fazer desmoronar sonhos, ideais, planos. 
Este não é o lugar nem o momento para soluções didáticas ou pedagógicas, mas apenas para a menção rápida ao problema, que poderá levar, ou não, à reflexão.
Fica apenas a lembrança do filme e das palavras do rei:
Eu tenho uma voz!


Youtube


E é com orgulho que recebo o convite para a premiação de nosso ex aluno, hoje licenciado em Letras pela UNISUZ, Marcos Vinícius Pereira, que teve seu poema Estrangeiro de mim mesmo, contemplado com o primeiro lugar no 8º Concurso Literário Cora Coralina, de Suzano. 
Parabéns, Marcos Vinícius!


FOTO UNISUZ 
SIMPÓSIO DE LETRAS -  SIMPOL 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

SEM PALAVRAS

Quantas vezes nos quedamos sem palavras diante da dor do outro.... Quantas vezes queremos a palavra certa, a frase oportuna e permanecemos  silenciosos, sem nada dizer... Compartilhamos o sentir, esperando que o outro perceba nossos sentimentos.
As linhas abaixo retratam um momento, vivido há alguns anos, em que nada pude dizer, apenas sentir...


A UM AMIGO

Sinto no peito
doer a dor do amigo,
que apaga o sorriso
sempre companheiro.

Como lhe dizer, amigo,
que me sinto triste por vê-lo sofrer?

Saiba, companheiro,
já ouvi dizer alguém
que na vida tudo passa
e as dores passam também...

E nestes mal traçados versos
sem rima, descompassados,
eu peço a Deus que o faça
mais feliz,
para que assim eu possa
ser mais feliz também.


Para embalar os sentidos, ninguém melhor do que Piazzola, interpretado por Yo Yo Ma. 




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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

PARA OS QUE AMAM DRUMMOND: OFEREÇO ADÉLIA

COM LICENÇA POÉTICA

                                  Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

PRADO, Adélia. COM LICENÇA POÉTICA. In: MORICONI, Italo. OS CEM MELHORES POEMAS BRASILEIROS DO SÉCULO.  Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.p.247.





  

Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade
Voz: Paulo Autran
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domingo, 29 de julho de 2012

PALAVRAS ESPARSAS

     Mexo em meus guardados e encontro, em papéis dobrados, ou no verso de calendários, pequenos textos escritos em momentos de espera, de descanso, de viagem, em que a inspiração veio e transbordou em forma de palavras...
     Passo a transcrever neste espaço, textos que surgiram a partir de situações vividas, algumas alegres, outras tristes, de esperança ou de mágoa.      Afinal, isso não é viver? Momentos que se sucedem, sensações, sentimentos, muitas vezes esquecidos ou nem ao menos percebidos.
     Aqui vão portanto algumas destas linhas, traçadas em uma folha  que o tempo amarelou.

     ADEUS

     Todo dia é dia
     de dizer Adeus!
     Todo tempo é tempo 
     de Agradecer!
     É preciso, então,
     não perder o tempo
     de agradecer,
     antes que o dia chegue
     de dizer
     Adeus...



Edu Lobo: Pra dizer  Adeus
Edu Lobo e Torquato Neto
Youtube

sexta-feira, 20 de julho de 2012

UKELELE

Conheci o som do ukelele em minha adolescência. O som peculiar era comum em filmes de Elvis Presley e em comédias românticas que embalavam os sonhos de finais sempre felizes.
Volto agora a ouvir e apreciar esse instrumento pelas mãos de meu filho que, apaixonado por música e percussão, ensaia seus acordes nos finais de semana, aqui em casa.
Compartilho então um momento muito belo: um video em que o ukelele é tocado com maestria em meio a um mar que parece de sonho.




Can't Keep - Eddie Vedder
Youtube

Em busca de um texto para completar esta página, encontro um poema de José de Carvalho, autor que conheci à entrada do MASP, em São Paulo, há alguns anos. O livrinho (pequeno apenas no tamanho) traz poemas,  haikais e fotos.
Segundo Marino Maradei Jr, que assina a apresentação do livro, "combinam-se claramente a sabedoria de Tsé, que inspirou o Taoísmo, e a sutileza poética do Bashô. O resultado conduz a um fluxo delicado e inteligente de exercícios que se traduzem numa idealização: a Beleza Absoluta"

PEIXE NA BOCA DE JACARÉ


Se não bastasse o ar que envolve a minha voz
e esse silêncio
uma imagem não se desgasta nunca


há sempre um novo sempre - a nos tocar fundo
e não importa se fora ou dentro
dormitam cenas
fragmentos de um mundo inteiro.
às vezes uma língua escavando em semicírculo
o ouvido 
                  [em diálogos amenos de Aretino
em outras, só planície, terra desolada pela seca
onde erigiu-se uma estela aos sem destino.


e sendo um outro rio, me torno anfíbio
e deslizo ao encontro de furtivas águas


CARVALHO, José de. Destas águas. São Paulo: Quebra Nozes, 2007.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

DE VOLTA - PALAVRAS

Após quinze dias de esperadas férias, retorno à rotina de trabalho, encontrando os amigos queridos, as decisões a tomar, as tarefas a cumprir. Retorno ainda a este blog, do qual tirei férias também, pois a vontade era de apagar, por alguns dias, tudo aquilo que faz parte de meu dia a dia.
Agora, ânimo renovado, envio meu abraço aos meus visitantes, conhecidos ou não, esperando que tirem algum proveito do que encontrarão neste espaço. 

PSICOLOGIA DA COMPOSIÇÃO
João Cabral de Melo Neto
     - VII -

É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.

São minerais 
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos
quando em estado de palavra.

É mineral
a linha do horizonte,
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavra.

É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza

da palavra escrita

In: MORRICONI, Italo. Os cem melhores poemas brasileiros do século. 
Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.






 CLARICE   ESCREVENDO

Por que não tentar neste momento, que não é grave, olhar pela janela? Esta é a ponte. Este é o rio. Eis a Penitenciária. Eis o relógio. E Recife. Eis o canal. Onde está a pedra que sinto? a pedra que esmagou a cidade. Na forma palpável das coisas. [...]









Se esta foi uma palavra ecoando no chão duro, qual é o teu sentido? Como é cavo este coração no peito da cidade. Procuro, procuro. Casa, calçadas, degraus, monumento, poste, tua indústria. 
Da mais alta muralha - olho. Procuro. Da mais alta muralha não recebo nenhum sinal. Daqui não vejo, pois tua clareza é impenetrável. Daqui não vejo, mas sinto que alguma coisa está escrita a carvão numa parede desta cidade.          

 Clarice Lispector: O manifesto da cidade. 

 In: Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro, Rocco, 1999.




Fotografia:  Google Imagens   

Link para o texto integral:





Uma palavra
Chico Buarque de Holanda
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sexta-feira, 6 de julho de 2012

PREGUIÇA...

Hoje não há palavras, nem rimas, nem versos...
Nem ao menos aquela vontade de criar, que invade e exige a produção.
Hoje, só preguiça. Falta a adrenalina do cotidiano e mesmo o cotidiano atual se arrasta.
Lanço mão então de meus poetas preferidos para preencher a página e esta noite de inverno que mais parece verão.


Emergência
Mario Quintana

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.




Todo sentimento - Cristóvão Bastos e Chico Buarque de Holanda
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sábado, 30 de junho de 2012

FINALMENTE FÉRIAS!

Depois de um final de semestre extremamente cansativo e tenso, estou em férias!

Google Imagens




Peço licença para reproduzir um texto publicado no ano passado, desejando a todos muitas tardes como a que descrevo.


Entardecer de ócio



Aos meus amigos, a quem gostaria de oferecer uma tarde assim.



Todos deveriam ter o direito de desfrutar de um entardecer de ócio. Todos, sem exceção, de todas as cores, credos ou procedências, jovens, adultos, idosos, deveriam, por direito, usufruir da beleza do pôr-do-sol, em perfeita ociosidade.

Bons ou maus, não tão bons, nem tão maus, pobres e ricos, trabalhadores e desempregados, comunistas, socialistas, imperialistas, capitalistas e todos os "istas" possíveis, nenhum deles seria privado do direito de contemplar, imóvel e em completo descanso, o róseo do céu, o vermelho do sol que se põe no horizonte.

E ainda todos aqueles que amam e que odeiam, que choram e que riem, seja por alegria, seja por tristeza, seja por inveja, seja por raiva, os sinceros e os falsos, os cínicos, os irônicos, os confiáveis e os amáveis: sim, todos eles deveriam ter esse direito e dele usufruir...

Seria um entardecer de plena paz: sem desejos nem anseios, sem planos e decisões, sem projetos, sem perspectivas: apenas o céu e o sol. Mas também não haveria mágoas ou tristezas, lembranças e saudades, dores e temores. Nada. Apenas a tarde.

E a tarde seria bela: o céu de um azul perfeito, algumas nuvens, por que não? Afinal é possível a magistral beleza de um céu em que as nuvens deixam escapar feixes de luz.

No horizonte, aos olhos extasiados, se mostraria o rosa, o lilás e o dourado, emoldurando o disco vermelho que se despede, aos poucos, prenunciando a noite.

A tarde seria também perfumada e sonora. Perfume de flores no ar, nada forte, nada intenso, nada que perturbasse o recolhimento e o prazer daqueles instantes em que o tempo deixou de existir. Sons de pássaros, em voos rápidos, aos pares ou em bandos, ou ainda solitários, completariam a festa dos sentidos, sons e aromas, cores e luz, perfeição.

E nesse entardecer de ócio, total desprendimento de tudo que parece ser tão importante: coisas, pessoas, ações, até o tempo pareceria imóvel: uma pausa, um hiato, um momento de puro deleite, de entrega e interação. Seriam todos apenas um: ser e natureza, integrados. Sem pressa, sem tempo, sem nada.

Apenas a tarde.
Publicado originalmente em 11 de janeiro de 2011. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

SEMPRE POESIA

A poesia, como a música, nos enleva, nos preenche, faz  com que, por momentos, vivamos uma outra realidade. Hoje, ao findar a tarde,  passei alguns momentos de enlevo saboreando as melodias entoadas pelos coralistas, no Encontro de Corais que aconteceu no Clube de Campo de Mogi das Cruzes.
Junto às emoções da música, a emoção do encontro com amigos, com pessoas que admiro e que fazem ou fizeram parte de minha história de vida.
Agora, passeando pelos blogues que sigo, e outros pelos quais perambulo,  encontro imagens e textos que trazem mais beleza e harmonia para este final de domingo (ou talvez início de segunda feira...)
Atrevo-me então a transcrever um poema de Neruda, que encontrei no blog de Catarina: "Contempladora Ocidental" ( http://contempladoraocidental.blogspot.com.br/ ) , publicado há alguns anos.
Pablo Neruda me encanta sempre pela sonoridade de seus versos,  pelas imagens construídas, pela profundo olhar com que viu e nos faz ver a vida...


Casa
Tal vez ésta es la casa en que viví
cuando yo no existí ni había tierra,
cuando todo era luna o piedra o sombra,
cuando la luz inmóvil no nacía.
Tal vez entonces esta piedra era
mi casa, mis ventanas o mis ojos.
Me recuerda esta rosa de granito
algo que me habitaba o que habité,
cueva o cabeza cósmica de sueños,
copa o castillo o nave o nacimiento.
Toco el tenaz esfuerzo de la roca,
su baluarte golpeado en la salmuera,
y sé que aquí quedaron grietas mías,
arrugadas sustancias que subieron
desde profundidades hasta mi alma,
y piedra fui, piedra seré, por eso
toco esta piedra y para mí no ha muerto:
es lo que fui, lo que seré, reposo
de un combate tan largo como el tiempo.

Pablo Neruda

sábado, 9 de junho de 2012

MARCAS



É inevitável.
Sempre deixamos nossa marca no tempo:
leve, profunda, muitas vezes invisível...
Mas lá está ela, inexoravelmente...



                                                                       Portão em Atibaia, SP
... o que você demora
é o que o tempo leva...
... na cinza das horas


                                                                Vambora - Adriana Calcanhoto (Youtube)

PASSADO PRESENTE


Há alguns anos, desenvolvendo um projeto de Memórias do Centro Histórico de Mogi das Cruzes, com alunos do Colégio Santa Mônica, organizamos uma exposição com fotos de alunos. Como introdução, o texto que reproduzo:

                                     Telhados da Igreja e Convento de N. Sra. do Carmo em Mogi das Cruzes

PASSADO PRESENTE

O passado está presente em nós.
Acompanha-nos em forma de carinho de avós,
em forma de releituras clássicas,
em forma de ruas estreitas, casarões, igrejas centenárias...

Não há como negar:
somos passado e presente transpondo o tempo,
em busca de um futuro desconhecido.

Assim, é preciso treinar o olhar:
enxergar o antigo não como o descartável,
mas como o alicerce e modelo de novas estruturas;
não como o feio, mas como o belo de uma época específica,
não como algo sem valor, mas sim como um precioso registro do tempo.

E mais: é preciso treinar o olhar jovem, o olhar adolescente,
a fim de que perceba e valorize seu passado,
possa compreender seu presente
e construir seu futuro.

Que todos, jovens e adultos,
 possam ver sempre um
PASSADO...PRESENTE!

                                                               

segunda-feira, 21 de maio de 2012

PAZ

As três idades do homem - Ticiano (Tiziano Vezellio) 1512
Galeria Nacional de Escócia


Céu de Ticiano,
Mescla de cinza, azul e rosa.
Brisa leve, estremecendo hibiscos,
Verde, branco intenso, vermelho ainda incipiente...
A água que nutre e refresca sussurra no entardecer.
Em meio a tudo isso, a vida parece estancar,
E os minutos se arrastam como horas.

Impregnada de natureza e de beleza,
Absorvo esse hiato no tempo,
Identifico-me, entrego-me.
Como a água ele me nutre...
É outono, é entardecer, é vida,
É Paz!




Casa no campo - Elis Regina
Autor Zé Rodrix

segunda-feira, 14 de maio de 2012

CONTINHO

Pergunto-me por que demorei tanto em postar alguma coisa... Falta de tempo? Falta de idéias? Falta de inspiração? Não sei, um pouco de tudo e mais. Respeito demais quem me lê para escrever qualquer coisa, apenas por escrever...
Aventuro-me hoje a colocar um continho escrito já há algum tempo, que segue o mote da brevidade. Este, mais lacônico do que o primeiro que escrevi, tem em sua objetividade uma meta a cumprir. Excluir tudo o que seja excesso.
Apresento então este continho intitulado:

Em uma certa noite de verão


Disse Tcheckov que a brevidade é a maior das virtudes. Disse também que em contos, mais vale dizer de menos que de mais. Assim, compreendam, esta brevidade, intencional, permite que construam a sua vontade, os detalhes que criam o desenrolar dos fatos, bem como as possíveis implicações que possam acarretar.
Vamos, pois aos fatos.
Por trás da vidraça fechada, o gato chora por liberdade em lamentos profundos.
Na cama virginal, a menina sonha sonhos eróticos, entre lençóis.
Na rua estreita, deserta a esta hora, o vento morno de verão, carrega folhas e poeira.
Alerta, o gato interrompe o lamento, orelhas em pé.
Ao assobio conhecido, a menina desperta e, rápida, deixa os lençóis e o pijama, já vestida em jeans e camiseta. Rapidamente, pela janela, agora aberta, passa o corpo esbelto que se acomoda na garupa da moto.
Parte a moto e o gato se esgueira, aproveitando o vão. Livre!
Livre ele, em muros e telhados. Livre ela, em um motel próximo.
A madrugada traz de volta os dois fugitivos e os primeiros raios de sol encontram a menina adormecida na cama que deixou de ser virginal.
O gato, esse dorme enroscado no tapete.
Tudo volta à normalidade, à rotina barulhenta de todo dia.
Tudo parece igual. Apenas parece.
Esses os fatos. E dessa forma, compacta e, espero, clara, deixo a quem lê, a tarefa de criar as conseqüências e os desdobramentos do acontecido em uma certa noite de verão...

                                              Papel de parede - Google Imagens






segunda-feira, 16 de abril de 2012

OUTONO

Alguns amigos relataram problemas de visualização dos textos.Como leiga que sou em coisas de internet, fui em busca de respostas e tento agora um novo layout para verificar se o problema está resolvido.
Para aproveitar, rendo-me à nova estação e trago folhas de outono para enfeitar a página. Lembro-me também de uma melodia antiga, cantada por minha irmã: Concerto de outono. Talvez os que me lêem não se recordem dela, por isso trago a letra, bela e singela.
Para concluir, a melodia eterna de Yves Montand: Les feuilles Mortes.
                       
Concerto de Outono
Carlos Galhardo
 
Olhando as folhas mortas
Sopradas pelo vento
Eu sinto o frio da solidão...
Nas nuvens tão escuras
Se espelha meu tormento
Não tem mais luz
Meu pensamento
 
Eu sinto então vibrando
No céu sem claridade
A melodia que me traz a ilusão
Do início de um concerto
Dizendo ao coração
O outono está voltando
Quem amo não...
 
 

terça-feira, 10 de abril de 2012

SOBRE HUMANIDADE

Hoje, por diversas vezes, tive oportunidade de refletir sobre dois conceitos que atualmente parecem distintos: o conceito do direito, e o conceito de humanidade. Nesta terra em que as vantagens parecem se sobrepor aos direitos, em que o certo e o errado parecem borrões indistintos que se mesclam, reservar-se o direito de ser justo é  uma qualidade pouco percebida.
Ou ainda, lutar  pelos direitos dos menos favorecidos, dos menos esclarecidos, torna-se  a mola que impulsiona bem intencionados os quais dedicam sua vida e sua carreira em favor do outro.
Mas, muitas vezes, a noção do direito, principalmente do direito adquirido subverte  o conceito primeiro e sufoca conceitos outros como humanidade, fraternidade, cooperação...
Estar em seu direito significa não olhar o outro com olhos de humanidade?
Estar em seu direito significa tornar-se insensível à dor alheia?
Obviamente, não me refiro a conchavos, a subversões da lei ou infrações camufladas.
Refiro-me, sim ao transcender a condição do direito adquirido, o que  seria abdicar do mesmo por uma causa nobre, por um ato de fraternidade, por um olhar mais humano...
Essas reflexões me deixaram triste por pereceber que há uma nova geração que se fecha para o outro, em busca de "seus direitos" e abriram-me os olhos para a importância de levar aos jovens a discussão sobre o direito e a humanidade. 
Ainda há tempo.
Ou não?



Para fechar, sem deixar de refletir, um pouco de Lenine: Paciência


quarta-feira, 21 de março de 2012

APESAR

Apesar dos pesares
A vida continua.

Apesar do riso,
Apesar da lágrima,
Apesar da indiferença,
A vida continua...

Apesar da fome,
Apesar da seca,
Apesar do corpo no asfalto,
Apesar do crime na rua,
A vida continua...

Apesar do amor,
Apesar da dor,
Apesar do aplauso,
Apesar do escárnio,
A vida continua...

Apesar de mim,
Apesar de você,
Apesar de toda gente,
A vida segue em frente...




Rosa persistente


Lembrança de formatura,
fincada na terra,
brotou no quintal
que embeleza com suas pequenas flores...
Resistente ao tempo,
ao sol, à chuva,
à falta de cuidados...
Apesar de tudo, segue firme
 e se renova a cada dia, trazendo alegria e esperança
para a vida da gente...